Vende-se
uma casa encantada
Tem
dois amplos salões
onde
você poderá oferecer banquetes
para
os duendes e anões
que
moram na floresta ao lado.
Tem
jardineiras nas janelas,
onde
convém plantar margaridas.
Tem quartos de todas as
cores
que aumentam ou diminuem
de acordo com o seu tamanho
e na garagem há vagas
para todos os seus sonhos.
Menino
procura com urgência
um
vale azul para morar.
Um
vale onde a aurora desperte as coisas
suavemente
e as manhãs
tenham
gosto de jabuticaba.
Um
vale onde todos andem
de
mãos dadas e onde a fome seja saciada.
Um
vale onde os riachos cantem
enchendo
todo de azul,
inclusive o coração do menino.
que mostre um futuro grávido de
paz:
que a paz brilhe no escuro
com o brilho especial que
algumas
palavras possuem
mas que seja mais que palavra,
mais do que a promessa:
seja como a chuva que sacia a
sede da terra.
Menino
que mora num planeta
azul
feito a cauda de um cometa
quer
se corresponder com alguém
de
outra galáxia.
Neste
planeta onde o menino mora
as
coisas não vão tão bem assim:
o
azul está ficando desbotado
e
os homens brincam de guerra.
É
só apertar um botão
que
o planeta Terra vai pelos ares...
Então
o menino procura com urgência
alguém
de outra galáxia
para
trocarem selos, figurinhas
e
esperanças.
Habitante
de outra galáxia
aceita
corresponder-se com o menino
do
planeta azul.
feito
de vento e cheira a jasmim.
Não
há fome nem há guerra,
e
nas tardes perfumadas
as
pessoas passeiam de mãos dadas
e
costumam rir à toa.
Nesta
galáxia ninguém faz a morte,
ela
acontece naturalmente,
como
o sono depois da festa.
Os
habitantes não mentem
e
por isso os seus olhos
brilham como riachos.
O
habitante da outra galáxia
aceita
trocar selos e figurinhas
e
pede ao menino
que
encha os bolsos de esperanças,
e
não só os bolsos, mas também as mãos,
e
os cabelos, a voz, o coração
que
a doença do planeta azul
ainda
tem solução.
Roseana
Murray
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